Cultura de Pérolas





Pérolas, em cores fascinantes, do branco-prata ao amarelo, azul e preto iridescente, sempre enfeitaram e enfeitiçaram as mulheres. A cultura em água doce ou salgada produz anualmente grandes quantidades de pérolas, para deleite de muitas mulheres.


As pérolas são dos materiais de gema que mais cedo foram utilizados para adorno pessoal. Os escritos mais antigos que mencionam pérolas datam de cerca de 2000 anos a.C..

A exagerada procura de pérolas e a poluição levou ao quase esgotamento deste recurso por todo o mundo. Embora atualmente o mercado das pérolas esteja baseado quase exclusivamente em pérolas de cultura, “(…) nalguns países ainda há procura de pérolas naturais, como por exemplo em Bahrein, Dubai, Tailândia, Myanmar (antiga Birmânia) e Sri-Lanka.” (Rui Galopim de Carvalho, com. pess.)



A atual palavra pérola vem do latim pirla, diminutivo de pira, em alusão à forma alongada das pérolas dos pendentes. Para os Romanos a pérola era um símbolo do amor e chamavam-lhemargarita. 




As pérolas são produzidas por organismos (moluscos), que vivem tanto em águas salgadas como em águas doces. Os moluscos produtores de pérolas mais importantes são as ostras em águas salgadas e os mexilhões em águas doces. Estes organismos pertencem a um subgrupo de moluscos constituídos por uma concha formada por duas partes, sendo por isso denominados de bivalves.

As pérolas, ao contrário da maioria dos minerais, não necessitam de lapidação ou polimento para revelarem a sua beleza e poderem ser utilizadas em joalharia.


CONSTITUIÇÃO

Segundo alguns autores, o processo natural de formação da pérola tem início quando uma substância estranha – um grão de areia, por exemplo – se deposita no interior do bivalve, causando-lhe uma irritação, que desencadeia uma reação para tentar isolar o "invasor", que inclui a produção de uma secreção que recobre o corpo estranho. Esta secreção é constituída por nácar, composto quase exclusivamente por carbonato de cálcio (sob a forma de cristais de aragonite) e por uma substância proteica denominada conchina. Os cristais de aragonite dispõem-se em camadas finas e concêntricas sobrepostas com a conchina e é esta estrutura que produz o brilho especial das pérolas dito de nacarado. No entanto, alguns investigadores sugerem outras causas para a formação das pérolas, nomeadamente alterações fisiológicas que conduzem à produção do nácar.





CULTURA


Vários japoneses, no fim do sec. XIX, levaram a cabo uma série de experiências que conduziram à moderna técnica de cultivo de pérolas. Entre eles estava Kokichi Mikimoto, que embora não tenha sido o primeiro a desenvolver o método de produção de pérolas esféricas, foi sem dúvida um dos seus pioneiros e o líder na produção de pérolas de água salgada, bem como no seu marketing. Kokichi Mikimoto ajudou a desenvolver uma indústria que permite a compra de pérolas por muitas gentes em todo o mundo.

Nas pérolas de cultura de água salgada é introduzido dentro de cada ostra um (ou mais) núcleo redondo (geralmente de madrepérola), juntamente com um excerto de tecido de uma ostra semelhante. É o pedaço de tecido que vai desencadear o processo de produção de nácar, por parte da ostra hospedeira, para envolver o núcleo e desta forma produzir uma pérola. As ostras são depois inseridas dentro de uma espécie de cestos, que são mergulhados nas águas do meio ambiente natural, a determinadas profundidades.

Os núcleos de madrepérola são esferas feitas a partir da concha de bivalves provenientes do rio Mississipy, nos E.U.A. Os excertos de tecido são obtidos a partir da morte de ostras perlíferas locais.




Neste processo de cultura de pérolas uma grande parte das ostras rejeitam o núcleo, muitas morrem e só uma pequena parte produz pérolas. A quantidade de nácar de cada pérola vai depender do tempo que o molusco teve para o produzir; cada camada corresponde à produção durante uma estação do ano. Quanto mais tempo as ostras tiverem para produzir nácar, de maior qualidade serão as pérolas. É a espessura do nácar que ajuda a preservar a cor natural, o brilho e a beleza da pérola, para além do que uma camada muito fina de nácar pode facilmente descamar com o uso, deixando à vista o núcleo, ficando a pérola muito danificada.


As ostras mais importantes na produção de pérolas pertencem ao género Pinctada, que tendem a viver em zonas bem definidas. Geralmente podemos agrupar as pérolas em 3 grupos, de acordo com a sua proveniência:

- as chamadas pérolas japonesas ou pérolas de cultura Akoya, provêm da ostra Akoya cujo nome científico é Pinctada imbricata; estas ostras também vivem em águas da Coreia, China, Hong Kong e Sri-Lanka;

- as pérolas australianas ou pérolas de cultura dos mares do Sul provêm de espécies maiores, de lábio branco, como a Pinctada maxima;

- as pérolas negras do Tahiti e das Ilhas Cook são produzidas pelas ostras de lábio negro ouPinctada margaritifera. 






As pérolas dos mares do Sul provêem de vários países: Austrália, Indonésia e Filipinas. Também estão incluídos neste grupo a Malásia, o Vietname e Myanmar, mas ainda têm pouca expressão em termos de volume de produção. 

As ostras Akoya têm entre 7 e 8 cm de diâmetro e produzem pérolas entre os 2 e os 9 mm, raramente com 10 mm. Até à década de 60 eram deixadas debaixo de água durante cerca de dois anos e meio mas, devido às exigências do mercado, o tempo de cultivo foi diminuindo e actualmente ronda os 5 a 7 meses. São geralmente cremes, amareladas e esverdeadas. São frequentemente branqueadas para melhorar a sua cor (tratamento aceitável) e, por vezes, tingidas para a modificar (tratamento não aceitável). A percentagem de pérolas redondas obtida com estas ostras é substancialmente maior do que com as ostras dos mares do Sul.

As pérolas dos mares do Sul são facilmente identificáveis pelo seu tamanho maior, entre os 9 e os 17mm (cada ostra tem entre 25 a 35 cm e pode chegar a pesar 5Kg). O tempo de cultivo varia entre dois e três anos. Podem ter várias cores, como branco, prateado, rosado, creme, champanhe, amarelo, verde e azul. Só uma percentagem muito reduzida da produção total tem forma redonda; as restantes formas são: quase redonda, oval, gota, botão e barrocas (irregulares). 





Nas ostras Akoya são muitas vezes inseridos mais do que um núcleo e as mesmas ostras nunca voltam a ser nucleadas. Nas ostras dos mares do Sul apenas um núcleo é introduzido de cada vez, mas o processo pode repetir-se até um máximo de 3 vezes, se a saúde e idade da ostra assim o permitir. 



As ostras que dão pérolas negras, i.e., de cores escuras, também se encontram noutras águas tropicais, como na Indonésia e nas Filipinas, mas é no Tahiti que se produzem os melhores exemplares. Com uma dimensão entre os 12 a 15 cm, estas ostras produzem pérolas com um diâmetro que varia entre os 8 e os 16 mm. Permanecem cerca de 22 a 26 meses submersas e a percentagem de ostras que, após ter sido inserido o núcleo, produz pérolas com qualidade é muito reduzida. Não obstante, o mercado destas pérolas tem-se vindo a desenvolver muito, devido ao intenso marketing que tem sido feito.

A cultura de pérolas produz, por vezes, juntamente com as pérolas cultivadas, um subproduto sob a forma de uma pequenina pérola sem núcleo e com uma forma irregular. São as chamadas pérolas Keshi, que devido ao seu tamanho reduzido são difíceis de furar e são, por isso, frequentemente enviadas para países de mão-de-obra barata para as furarem, de forma a poderem constituir colares e braceletes. 


As pérolas de cultura de água doce provêm quase todas do mexilhão da espécie Hyriopsis schlegeli, que com 15 anos pode atingir os 30 cm de comprimento e os 20 cm de largura. Na China a taxa de crescimento destes mexilhões é muito rápida; em 5 ou 6 meses atingem os 7 a 9 cm e estão prontos a serem “cultivados”.

O processo de cultura, embora semelhante ao de água salgada, é feito geralmente sem a introdução de um núcleo rijo; 95 a 98% das pérolas de água doce não são nucleadas. Dependendo do tamanho do mexilhão podem ser inseridos 20 a 60 pedaços de tecido (de outros moluscos), em cada um. Posteriormente, e tal como acontece com as ostras, são introduzidos na água, no seu meio ambiente natural e é só esperar. Ao fim de três anos cerca de 30% das pérolas atingiram os 7mm e ao fim de quatro anos perto de 80% das pérolas têm 7mm ou mais.

Tal como com as pérolas dos mares do Sul, também os mexilhões podem voltar a ser “cultivados” até um máximo de três vezes. Estas pérolas são muito variadas na forma, na cor e no tamanho que apresentam; são raras as formas perfeitamente redondas e o tamanho médio ronda os 4 a 5 mm.

Os Chineses foram os primeiros a descobrir, há muitos séculos atrás, que as pérolas podiam ser cultivadas utilizando para isso mexilhões de água doce. Mas os produtos resultantes não eram verdadeiras pérolas e só muito mais tarde (nos anos 20) os japoneses experimentaram a cultura de pérolas de água doce no lago Biwa. Após várias tentativas, em 1946, obtêm sucesso e estas pérolas invadem o mercado.

Em 1960 a China volta à produção, mas o produto continuava a ser de qualidade inferior ao produto japonês. Só na década de 80 e 90 é que os chineses começam a produzir pérolas de água doce de boa qualidade, mais redondas e maiores que as dos japoneses. Actualmente a China lidera o mercado das pérolas de água doce, produzindo anualmente um quantitativo que ronda as 800 toneladas. É um país muito competitivo em termos de ritmo de produção e custos finais, pois possui muita mão-de-obra barata. Graves problemas de poluição no lago Biwa levou a uma drástica diminuição da produção japonesa. 


É também por volta desta altura que a China começa a produzir grandes quantidades de pérolas de água salgada,akoya, ameaçando a tradicional cultura japonesa. Problemas de poluição na água do mar e maiores custos de produção japoneses levaram ao decréscimo da sua produção; “recentemente os japoneses têm vindo a deslocar as suas quintas para os mares do Vietname e da Tailândia”. (Rui Galopim de Carvalho, com. pess.)

O preço das pérolas é baseado na quantidade disponível no mercado, no tamanho e na qualidade das mesmas. A qualidade por sua vez depende da forma, cor, brilho e textura da superfície. Como já foi referido, é a espessura de nácar que condiciona a cor e o brilho da pérola, bem como a sua durabilidade. Uma pérola com uma espessura de nácar razoável apresenta um bom lustro ou brilho e uma cor que vai ser mais persistente Desta forma, pode ser preferível comprar uma pérola menos redonda ou até com algumas irregularidades naturais na sua superfície, mas com uma espessura razoável de nácar, do que uma pérola mais redonda e lisa, mas com uma camada muito fina desta substância.


BIBLIOGRAFIA

Gemmological Association and Gem Testing Laboratory of Great Britain (GAGTL), (1991). Gem Testing Course notes, London.

Muller, A. (1997). Cultered Pearls – The first hundred years. Golay Buchel Holding S.A., Lausanne. 

Minerais e Pedras Preciosas, Guia Prático Para os Descobrir e Coleccionar (1993). RBA Editores, Lisboa. 

Newman, R. (1994). The Pearl Buying Guide. 2nd edition, International Jewelry Publications, Los Angeles. 




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