Conheça um mergulho diferente e encontre carros afundados na "Pedreira"


A grande atração de mergulhar no lago formado nesta pedreira abandonada, no interior de São Paulo, não é ver barcos naufragados e sim carros afundados

Foto: Kadu Pinheiro
Um Ford Ka foi o primeiro veículo trazido para um ponto mais raso do lago
Ainda que você não seja mergulhador, por certo já ouviu falar maravilhas sobre visitas submarinas a barcos afundados. Tanto que isso até virou uma das modalidades de mergulho cada vez mais procuradas. A costa de Recife e as imediações de Ilhabela estão entre os lugares preferidos pelos adeptos da especialidade, na costa brasileira. Mas, agora, há também uma opção bem diferente, embora (ainda) sem a mesma repercussão retumbante: o mergulho nas águas da “Pedreira”, como passou a ser conhecida a cratera de uma pedreira abandonada e inundada, na cidade de Salto de Pirapora, no interior de São Paulo. E por uma razão ainda mais curiosa: ali, o que se vê no fundo não são barcos e sim carros. Muitos deles.


Tem Vectra, Meriva, Ecoesporte, Ford Ka, Santana, picape Courrier e até um pequeno caminhão, entre dezenas de outros veículos. Alguns já viraram só destroços. Outros estão praticamente novos. Por causa deles, a Pedreira, mesmo estando bem longe do mar, já atrai tantos mergulhadores, que, em abril, uma equipe, a Hollis Subaquática, deu início a uma operação sui generis: remover um dos carros, um Ford Ka, do fundo da cratera, que estava a 45 metros de profundidade, e trazê-lo para uma plataforma mais próxima da superfície, a 25 metros, de forma que mesmo os mergulhadores não tão experientes em descidas profundas possam apreciar o “naufrágio” de perto.

Para isso, foi preciso montar uma operação e tanto: a título de lift bags, quatro bombonas de plástico, de 200 litros cada, foram sendo preenchidas com ar comprimido debaixo do carro, até que sua carroceria começou a “subir”, feito uma bolha de ferro e aço. Deu certo. Tanto que o próximo veículo a ser trazido para mais perto da superfície será o maior desafio da Pedreira: o tal pequeno caminhão. “Começamos pelo menorzinho e foi fácil”, explica o mergulhador Kadu Pinheiro, que faz parte da equipe. “Agora, nos animamos a ir buscar o caminhão, que está bem mais fundo, a 65 metros de profundidade.”

Fácil? Só para eles, claro. Para a grande maioria dos mortais, nem mesmo um simples mergulho na Pedreira é exatamente fácil, por causa da temperatura da água, quase sempre baixa, em torno dos 17 graus. Outras complicações são a profundidade e o fato de o lago estar a 700 metros de altitude, obrigando os mergulhadores que queiram ir mais fundo a cálculos de descompressão mais detalhados do que se estivessem no nível do mar. Se vale a pena ir até lá?

Kadu é rápido na resposta. “Claro! As condições de mergulho na Pedreira são muito boas. Não há correnteza, a visibilidade é constante e vai de seis a 12 metros. Se a água está turva a uma determinada profundidade, basta descer um pouco mais e ela volta a ficar limpa.” Além dos veículos abandonados, dá para ver árvores submersas e cardumes de peixes lambaris e cascudos, que ninguém sabe exatamente como foram parar ali (veja quadro), já que o lago formado na cratera não tem ligação externa com nenhum rio ou outra lagoa.

O surgimento de água na pedreira foi um acidente — e que acabou determinando o seu próprio fechamento. Cerca de duas décadas atrás, as máquinas de extração de calcário perfuraram um lençol freático. De início, a solução foi tentar retirar a água com bombas e jogá-la para fora. Mas o volume era grande demais e a operação fracassou, duplamente. Primeiro, porque não conseguiu secar a cratera. E, segundo, porque a água drenada ainda provocou o surgimento de um outro lago, ao lado dela. Hoje, o menor e menos procurado pelos mergulhadores, tem 36 metros de profundidade. Já o principal, que passou a ser conhecido como a “Pedreira”, ganhou fama e atualmente tem cerca de 75 metros de profundidade e o diâmetro equivalente ao de um pequeno estádio de futebol. “Isso ocorreu por vários motivos”, conta Carlos Janovitch, dono da operadora de mergulho Subaquática, em Sorocaba, cidade próxima a Salto de Pirapora. “Entre eles, a facilidade de acesso, já que não é preciso nem ter barco para descer lá.” Mergulho sem barco? Até nisso o mergulho na Pedreira é bem diferente.

Foto: Divulgação
Como estes peixes foram para lá?
Se a Pedreira é um lago artificial que brotou da terra, como pode ter peixes, como os lambaris e cascudos que hoje habitam suas águas? Ao que consta, ninguém os levou até lá. A hipótese mais provável é que tenham sido depositados no lago por enxurradas de rios próximos. Ou seja, de modo absolutamente fortuito. Difícil de acreditar? Nem tanto quanto o curiosíssimo fenômeno — este já comprovado — que gerou peixes também nas lagoas da desértica área de dunas dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão. Ali, a explicação é ainda mais incrível: os primeiros peixes foram trazidos nos bicos das aves, que pescavam no rio ao lado, e, eventualmente, deixavam cair as presas durante os voos. E quem garante que na Pedreira não aconteceu o mesmo?


fonte:Por Walterson Sardenberg Sº
Da revista Náutica 273

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