Evolução das espécies


Alguns exemplos aplicados ao mundo dos peixes e da pesca

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Imagem: Revista Ecoaventura
A teoria da evolução das espécies, lançada pelo naturalista inglês Charles Darwin, em 1859, na obra “A origem das espécies”, apresentou a ideia do surgimento de cada uma a partir de um ancestral comum e, por meio da seleção natural, explicou a enorme diversidade de seres vivos no planeta. Veja neste artigo alguns elucidativos exemplos aplicados ao mundo dos peixes e da pesca.

“Os mais fortes sobrevivem”. Essa é a “chave” para entender a teoria criada por Darwin há 150 anos. Se um indivíduo possui algum traço que o faz mais bem adaptado ao ambiente onde vive em relação a outros da mesma população, sua chance de sobreviver será maior. E, ao permanecer vivo por maior tempo, também são superiores suas chances de ter mais filhos que aqueles que não possuem tal característica. 


Atualmente, graças à genética (Darwin escreveu sua teoria sem essa importante contribuição), sabe-se que os traços são passados de pais para filhos. Segundo Michel Lopes, biólogo e técnico do MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), outro adendo importante da genética diz respeito aos mecanismos capazes de gerar variação genética: “Fala-se muito da mutação, mas há pelo menos outros três bem definidos. Supõe-se que até mesmo os vírus possam desempenhar esse papel por carregarem pedaços de DNA de um indivíduo para outro. Mas essa já é outra história”, explica. 

Em outras palavras, aquele traço que confere maior chance de sobrevivência a um indivíduo se espalhará e, com isso, nas gerações seguintes, a espécie tenderá a evoluir. Já os membros com maiores dificuldades de adaptação morrerão. Por outro lado, caso haja um isolamento geográfico, por exemplo, entre duas populações, uma delas poderá desenvolver tantas características diferentes que não conseguirá novamente se reproduzir com membros da outra população, e isso formará duas espécies distintas.


O Peixe-oalhaço: é melhor ser pequeno

Os peixes-palhaço desenvolveram uma qualidade que lhes confere uma vantagem adaptativa muito importante: seu muco é resistente ao veneno das anêmonas-do-mar. Com isso, vivem protegidos de seus predadores dentro dos tentáculos dela. Assim, caso nasça um peixe-palhaço capaz de ter tamanho maior que seus pares — por meio de mutação ou por outros mecanismos genéticos —, ou seja, que nasça geneticamente grande, será difícil que ele encontre uma anêmona do mesmo tamanho para abrigá-lo. E, desprotegido dos predadores, a chance de sobrevivência será pequena, isto é, a sua característica de “grandão” não será passada adiante. Por isso, nesse caso específico, a vantagem é ser pequeno.


Dourados e Pintados: o melhor é ser grande

Essas duas estrelas da pesca esportiva compartilham as mesmas táticas reprodutivas: são peixes de piracema, não cuidam dos filhotes e desovam milhões de ovócitos (devidamente fecundados pelos machos) para que apenas alguns consigam chegar à idade adulta. Por isso, quanto maior a fêmea, maior quantidade de ovócitos cabe em sua cavidade abdominal, o que representa uma vantagem adaptativa grande. Então, para essas espécies, a vantagem é ser grande.

Além disso, um indivíduo que é geneticamente grande, quando comparado a outro da mesma espécie geneticamente pequeno (o grandão e o nanico), leva outras vantagens: a larva filha do grandão nasce um pouco maior e apresenta taxa de crescimento proporcionalmente mais elevada que a filha do nanico. Isso significa que, para alcançar cinco centímetros, o filho do grandão levará alguns dias a menos, e a fase compreendida entre a larva e um juvenil que atingiu esse tamanho é justamente a mais crítica na vida dos peixes, já que a taxa de predação é muito alta. “Com cinco centímetros, o número e a abundância de predadores já caem de forma drástica, e o peixinho que chegou a esse tamanho tem suas chances na vida aumentadas consideravelmente”, esclarece Michel. E complementa: “Passar por essa fase crítica em menos tempo, ainda que sejam alguns dias, também representa um benefício adaptativo enorme. Esse é outro motivo pelo qual, no caso desses peixes, é vantajoso ser grande”.

Há, ainda, outros fatores que limitam o crescimento dos peixes. Caso contrário — e com base nessa teoria —, existiriam espécimes do tamanho de dinossauros. Entre os motivos, destacam-se o tamanho e a disponibilidade das presas (um Douradão de três metros não teria muito o que comer no Pantanal) e, principalmente, o balanço entre o gasto de energia com a manutenção corporal (metabolismo basal) e o gasto de energia com a produção de ovócitos. Nas palavras do biólogo: “Ovócitos são feitos de proteína e gordura, portanto, representam um gasto energético altíssimo para serem formados. Quanto mais o peixe conseguir ‘economizar’ com a manutenção de seu corpo e puder investir em sua formação, maior será sua vantagem adaptativa”, elucida. Isso significa que o Dourado deixará mais filhos que os concorrentes, e seus traços irão se espalhar na população. “Um corpo muito grande gasta energia em demasia com metabolismo basal e compromete essa eficiência reprodutiva”, salienta Michel Lopes. 


Tamanho mínimo e tamanho máximo

O tamanho mínimo de captura é uma medida de controle da pesca cujo objetivo é permitir que o peixe desove ao menos uma vez antes de ser abatido. Isso serve para garantir a reposição do estoque e as pescarias futuras. Trata-se de uma ferramenta simples, eficiente e de fácil aplicação no manejo pesqueiro. Entretanto, ela tem um custo muito alto para as espécies — a seleção artificial dos indivíduos pequenos.

Um indivíduo com genes de “grandão” possui taxa de crescimento elevada, e atinge o tamanho mínimo de captura com idade menor que o indivíduo “nanico”. Assim, ele vai reproduzir apenas uma vez antes de ultrapassar o tamanho mínimo e ser abatido pela pesca. Já o nanico cresce devagar, vai atingir o comprimento mínimo com idade superior ao grandão, o que lhe dará a possibilidade de passar por outros eventos reprodutivos e deixar mais filhos. No caso extremo de um anão (nanismo também ocorre em peixes), ele nunca atingirá o comprimento do tamanho mínimo, mas vai desovar por toda sua vida até morrer por causas naturais, sem a possibilidade de ser morto pela pesca. E isso representa uma vantagem adaptativa enorme.

Com a implantação do tamanho mínimo, passa a ser vantajoso ser pequeno, e as populações tendem a evoluir nesse sentido. Entretanto, não há motivos para alarde: “Isso ocorre em uma escala de tempo evolutiva que vai se espalhar geração após geração. Em pescarias antigas, como a do Bacalhau do Atlântico Norte (ocorre há mais de 100 anos), os efeitos são devastadores. Peixes antes capturados com cerca de 100 quilos hoje não ultrapassam os 10. Daí a importância da definição do tamanho máximo de captura para proteger os indivíduos geneticamente grandes”, alerta o técnico do MPA.



Outros fatores que limitam o crescimento dos peixes são o tamanho e a disponibilidade das presas, o gasto de energia com a manutenção corporal e com a formação de ovócitos

Estipular um tamanho mínimo, com o passar do tempo, significa espalhar os genes de peixes pequenos e diminuir consideravelmente o porte das espécies. Daí a explicação para o que ocorre no Pantanal, por exemplo. Por isso, o tamanho máximo se torna medida complementar


Da redação l Fotos: Arquivo Ecoaventura 
Publicado na edição 21 (junho/11) da Revista ECOAVENTURA 
Mais informações: www.grupoea.com.br


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